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Peças líticas. Objetos e ferramentas (machado de pedra polida, pilão de pedra polida, recipientes de pedra e moedas de pedra polida) já constam do acervo do Museu do Homem Sul-maranhense. |
Um antigo sonho do pesquisador Luís Pereira Santiago, 45, – o de construir o Museu do Homem Sul-maranhense – permanece vivo com o geógrafo. Formado pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema), em Imperatriz, Luís Pereira trabalha para conseguir o apoio – que, aliás, há anos vem “correndo atrás” - na tentativa de fazer com que o projeto saia do papel e seja transformado em realidade.
“Não paramos nenhum momento, desde o início das pesquisas, continuamos firmes, trabalhando e quando somos informados sobre alguma descoberta, para lá nos dirigimos, com a missão única de enriquecermos cada vez mais o acervo do nosso já bem encaminhado: Museu do Homem Sul-maranhense”, diz Santiago, entusiasmado e reafirmando-se um grande interessado na descoberta pelo passado do povo da região tocantina, notadamente de Imperatriz.
Foco – O principal foco do Museu do Homem Sul-maranhense, segundo Santiago, é a Arqueologia, a ciência que estuda os povos primitivos por meio de seus vestígios, os quais foram deixados voluntariamente ou não, caso das pinturas rupestres, pedaços de flechas e machado de pedra polida. “Uma grande missão para um povo interessado em conhecer o seu passado, a sua história. E é justamente isso que estamos buscando ao colocar em campo tão arrojado projeto”, conta.
O acervo já catalogado pelo jovem pesquisador imperatrizense, é composto por machado, pilão e moedor feito de pedra polida, além de cerâmicas, instrumentos e diversas moedas antigas. Todos esses materiais que mostram a passagem do homem pela região, indo até ao extremo do Nordeste, tendo em vista que, naquela época, a mesma não era dividida, foram encontrados nas regiões dos municípios de Arame (centro das pesquisas) Grajaú, Barra do Corda e Imperatriz.
Fronteiras – Os frutos das pesquisas de Luís Pereira Santiago já são vistos e comentados além das fronteiras do território regional. Recentemente, o geógrafo descobriu um sítio arqueológico, localizado no rio Cacau, à esquerda da ponte do Cacau, resultado de uma árdua pesquisa que teve a duração de seis meses. O pesquisador contou que houve uma espécie de quebra de paradigma, em decorrência da descoberta da existência de etnias tupi-guarani, tendo em vista que até então, eram relatados apenas vestígios da cultura macro-jê no território de Imperatriz.
Durante as pesquisas, foram encontradas igaçabas, urnas funerárias existentes há mais de mil anos na região da Grande Imperatriz. Na época, os índios eram os verdadeiros “donos destas imensas terras”, menciona, acrescentando que eles aqui residiam, mantendo tradições as mais distintas e inimagináveis possíveis.
Recursos – Indagado se a falta de recursos para patrocinar o denominado “Projeto Desbravamento das Verdadeiras Etnias Brasileiras”, o desanimava, Santiago mostrou-se otimista quanto à continuação das pesquisas. O geográfo afirmou que o seu laboratório continua à disposição de estudiosos e de “interessados no assunto”, sobretudo à comunidade estudantil. Aproveitou para frisar a importância dos jovens manterem a curiosidade aguçada em relação ao passado da “nossa gente, dos nossos ancestrais”.
Montado numa sala em sua residência, o laboratório tem cerca de 15 metros quadrados. Mesmo assim Santiago que muitas vezes, teve de tirar dinheiro do próprio bolso para ir até os locais de pesquisa, permanece firme. Vez por outra, apesar de sempre lhe apoiarem, seus familiares se mostram contrários aos trabalhos que ele tem de realizar em campo. Ontem, por exemplo, adiou uma viagem para Grajaú, aonde iria conversar in loco com moradores dos locais de estudo.
Descoberta – “A área por mim descoberta e denominada de sítio arqueológico do Cacau, não sofrera nenhuma alteração por parte das etnias, mas do homem branco, que vem destruindo-a há mais de dez anos, extraindo barro”, informa o pesquisador. De acordo com Santiago, por ação do homem moderno, as igaçabas foram quebradas e reduzidas a fragmentos, mesma coisa aconteceu com os ossos, os materiais líticos, os restos de fogueiras e os ecofatos.
Santiago reafirmou que “a presença do homem nessa região há mais 2 mil anos, pode ser comprovada, ainda, por vestígios deixados de forma voluntária, caso das pinturas rupestres encontradas no antigo povoado do Bebedouro e o sítio arqueológico da Lagoa Verde, já estudado pela Universidade do Tocantins, localizado na estação da Eletronorte”. Garantiu que em Imperatriz também já foram encontrados materiais feitos de pedra polida, entre os quais se encontram incluídos uma “requintada machadinha”, com datação estimada em 2 mil anos, um pilão de pedra e baladeiras.
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Cultura material das etnias Canela, Gavião, Guajajara e Krikati. |
Texto: Raimundo Primeiro.
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