segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Estatuto do Homem - por Thiago de Mello.

Poeta Thiago de Mello.
Imperatriz - Quando morei em Fortaleza - Ceará, nos anos de 2004/05, apresentei um programa noturno, aos sábado, na Ceará Rádio Clube. Um certo dia, recebi de um participante do programa, impresso em uma folha, o Estatuto do Homem, escrito pelo poeta Thiago de Melo (Foto). 
Achei interessante e, oito anos depois, resolvo postar aqui no Blog.

Um poema, de Thiago de Mello, "O Estatuto do Homem", escrito há anos atrás, nos permite repensar, na lírica do poeta, os artigos que falam dos direitos e deveres considerados, universalmente, como os de respeito à vida, à dignidade, à fraternidade e ao amor entre os seres humanos - uma conquista ainda a ser feita por nossa civilização, mas uma busca legítima, que deve ser persistentemente procurada.

Artigo 1º
Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira;

Artigo 2º
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive ás terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo;

Artigo 3º
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança;

Artigo 4º
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar  confia no campo azul do céu;

Parágrafo Único
O homem confiará no homem como o menino confia em outro menino.

Artigo 5º
Fica decretado que os homens estão livres do jogo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará á mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa;

Artigo 6º
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos, e a comida de ambos terá o mesmo gosto da aurora;

Artigo 7º
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do  povo;

Artigo 8º
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor;

Artigo 9º
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura;

Artigo 10º
Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco;

Artigo 11º
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã;

Artigo 12º
Decreta-se que nada será obrigado, nem proibido. Tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela;

Parágrafo Único
Só uma coisa é proibido: amar sem amor;

Artigo 13º
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou;

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, ou como a semente do trigo, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Um comentário: